Meu pai me fez conhecer a poesia de Augusto dos Anjos quando eu, moleque arrogante, 16 anos, nem queria saber de porra de poesia. Mas, contrariando a minha vontade, fiz a dele e me arrependo de nunca ter-lhe agradecido.
Hoje, faço essa homenagem a meu pai morto. Com os versos do poeta que ele me fez conhecer.
Triste e feliz por poder fazê-la.
A Meu pai morto
(Augusto dos Anjos)
Madrugada de Treze de janeiro.
Rezo, sonhando, o ofício da agonia.
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido, assim como um cordeiro!
E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia,
E disse à minha Mãe que me dizia:
“Acorda-o”! deixa-o, Mãe, dormir primeiro!
E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu…
Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!