domingo, 17 de maio de 2020

Diário do Coronga – Dia 59.

Estamos aqui, eu e Marília, tentando nos isolar do mundo por causa da pandemia.

Mas o mundo insiste em nos visitar, entrando pela tela da tevê, pelas redes sociais, pelas mensagens de Whatsapp.

E o mundo só tem trazido notícias ruins.

Nesses 59 dias desde que nos recolhemos voluntariamente, o número de casos confirmados da Covid-19 cresceu até se aproximar de 5 milhões de pessoas, com mais de 300 mil mortos. No Brasil, o destrambelhamento do Governo Federal está surtindo o efeito buscado: os casos espiralam morro acima e nem sequer sabemos quantos doentes temos nem quantos já morreram. Não se faz testes, não se respeita o distanciamento social, não se investe em infraestrutura para atender os casos graves. Cada suposto investimento parece que se transforma rapidamente em mais caso de corrupção: respiradores que não são entregues, quando o são, é uma fração mínima, ou inadequados para a função. Inaugura-se um hospital de campanha num dia e, no outro, levam-se seus equipamentos embora para se inaugurar o próximo. Tudo isso acontecendo e a gente nem tem tempo de absorver, pois tem sempre uma crise política explodindo nas altas esferas federais. Todo dia uma ameaça de golpe, uma manifestação fascista, uma aglomeração ilegal a que as forças de segurança assistem impassíveis. As mesmas forças que reprimiam com brutalidade desconhecida as manifestações de alunos e professores nos anos 2013 e 2014, permitem agora que atos potencialmente nocivos à saúde pública, pedindo o fim da democracia, até com exibições de milícias fascistas, aconteçam sem que uma bomba de gás seja lançada, uma lata de spray de pimenta seja aberta, uma bala de borracha seja disparada.

São essas as notícias que o mundo nos traz todos os dias, todas as vezes que rompe nosso isolamento por meio da tevê, do tablet, do smartphone.

São essas as notícias de que tento me isolar todos os dias para manter a sanidade, buscando refúgio na música, na leitura, no estudo, no trabalho.

Mas não está fácil.

Neste mundo pré-iluminismo em que nos encontramos nesse terceiro milênio, a razão foi jogada pra escanteio,com o agravante de que a religião, como seus valores morais, desceu junto pelo mesmo ralo. Nem Kant nem Jesus.

Nesta pandemia, a pior infecção é a que está matando o que era humano, nessa oclocracia global em que vivemos.


Diário do Coronga – Dia 79

A pandemia cresce no Brasil, como capim em gleba abandonada. Fui outro dia no supermercado e fiquei observando aquela gente toda de máscara....