Natal faz 415 anos. Peguei emprestado o texto de Norton Ferreira e a foto de Canindé Soares para esta homenagem.
"Pronto, cortei o braço e estou escrevendo esta carta com o meu
sangue para dizer que te amo. Esse dilaceramento é do tempo do Barroco,
eu sei, mas não tenho culpa: o amor ferve em qualquer tempo. Nossa
história não cabe em nenhuma história, você sabe. Quantos porres já
tomamos? Quantas noites já perambulamos e dormimos juntos? Quantas vezes
te pisei só para o meu prazer e nem por isso você chorou? É, eu sei,
você é dama e cachorra, rainha e plebeia, eis o teu fascínio.
Tens os raios mais fortes que circulam no universo: a beleza. O Sol fica
pálido diante de ti, minha menina linda, minha Lolita. Você corre em
mim como o ar e o meu sangue. Sou o pior dos amantes. Afinal, amantes
não podem ter ciúmes. E eu tenho. Será que você não vê que me custa
muito dividir você com outros? Esse seu jeito muito dada, muito alegre,
muito solícita ainda me leva à loucura. Na verdade, louco já estou, faz
tempo. Sim, eu sei que você ainda é uma menina. Quase moça, sim, mas
ainda menina. És tão bela que tua beleza chega a ser uma agressão às
mulheres, que também te admiram. A Grécia antiga viveria a teus pés,
disso o mundo sabe. E Zeus, o todo poderoso, viveria curvado diante de
ti.
Músicas, até músicas já fizeram para te louvar. E confesso
que invejo o amante Pedro Mendes, que te presenteou com a mais bela das
canções: Linda Baby. Ah, Natal!, só você para ganhar um ponto de
exclamação. Decreto que, a partir de hoje, Linda Baby será tocada em
todas as emissoras de rádio na Hora do Ângelus. Serás venerada todos os
dias, minha terra mãe, minha eterna menina. Morrer aqui é viver de
novo.
Obrigado, Natal, minha querida cidade, pelo calor que
abraça, pelo azul do teu Céu, por tuas árvores e teus bem-te-vis. Do teu
útero nasci de novo, e mais duas sementes aqui brotei. Dia 25 de
dezembro, agora, será teu aniversário. Vestirei minha melhor roupa, e
sairei por aí, anonimamente, para comemorar. Em cada bar pedirei dois
copos, um para mim e outro para ti. Levarei cópia de Linda Baby e
pedirei para tocar, tocar e tocar, e a ti brindarei. Beberei teu sol e
tuas estrelas, tuas madrugadas e teu mar. A lua será tua dama de honra.
Olha lá, os deuses estão chegando, vem te celebrar. Fogos, música, cadê a
bebida? Olha lá, o Céu está se abrindo, lá vem Zeus, Afrodite,
Minuano, Netuno, cheguem, cheguem, Minerva. por aqui, por aqui; os
anjos, olhem as trombetas, vem celebrar a minha cidade rainha; meu Deus,
os raios, tudo clareou, cheguem, cheguem, desçam todos, a rainha vos
espera, linda, linda, mais bebida, mais bebida, mais bebida, o banquete,
vamos celebrar a mais bela das belezas do universo... Dirão “Olha o
louco”, e eu responderei: por Natal. Só por Natal.
Norton Ferreira – redator publicitário.
casadasletras@gmail.com"
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
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2 comentários:
Belíssima crônica! Parabéns Norton Ferreira Ferreira... Adriana Ramos
O que seria você sem Natal e o que seria Natal sem você??? Dr. Abelardo Filho
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