Eu só desejo uma coisa desse povo que cria nossas maravilhas
high tech: um gravador de pensamentos.
Sim, dispenso o teletransporte que me permita passar o fim de semana em Tóquio e até a máquina que me leve de volta ao passado, para visitar
a Barreiras da minha adolescência, mas o gravador de pensamentos, eu preciso.
O fato é que costumo escrever textos enormes na minha cabeça --bem estruturados, instigantes, bem informados--, nas horas mais impróprias. São contos ou
memoirs, ensaios políticos, textos humorísticos ou seções inteiras da minha dissertação de mestrado. Coisas que eu penso na hora: É isso. Exatamente assim. Tá perfeito, mas que são "escritos" debaixo do chuveiro, sentado no vaso ou ao volante do carro. E então, quando enfim posso sentar diante do
netbook, conexões devidamente feitas, Google Docs aberto, puf. Sumiu.
Não é que sumiu tudo, sumiu aquele texto perfeito. Eu consigo recordar as ideias, o encadeamento e tal, mas na hora de digitar, sai um emaranhado de sentenças feias, sem a beleza argumentativa do texto anterior, sem
les mots justes.
É por isso que eu preciso que Steve Jobs, esteja onde estiver, inspire seus meninos a criarem o gravador de pensamentos. Nem precisa do recurso
speech-to-text, eu me encarrego de degravar o texto, sem problemas.
Mas, por favor, em nome de tudo o que já escrevi e desceu pelo ralo ou com a descarga, de todo escrito que já saiu voando pelas janelas do meu carro, alguém me crie um gravador de pensamentos!